Literatura está intimamente relacionada com práticas sociais. Nesse sentido, propomos uma gama de correlações entre as diversas manifestações literárias e a sociedade contemporânea. Assim, buscaremos no espaço social elementos que interajam diretamente com a arte literária.

Dessa forma, este blog objetiva analisar e expor elementos da realidade social, fazendo um contra ponto com a literatura e seus modos de encarar a realidade e a cultura das diversas épocas da sociedade.

Esperamos de você leitor a interação e a sugestão de novos temas, a discordância ou a concordância com as críticas aqui relacionadas, tendo em vista que pensar em Literatura não é apenas propor teorias literárias, mas sim promover a crítica à sociedade, tentando encontrar elementos que sejam favoraveis ou não à nossa formação enquanto leitores e apreciadores de leitura e cultura. Assim, este espaço é destinado aos professores de Língua Portuguesa e Literaturas, graduandos de Letras, alunos do nível médio e ao público que gosta de uma leitura crítica acerca dos assuntos que envolvam a sociedade.

Boas leituras!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Marcas do Trovadorismo na Atualidade?


O trovadorismo foi a primeira Escola Literária portuguesa. No plano da poesia estão as Cantigas; na prosa, as Novelas de Cavalaria. A cultura trovadoresca é o reflexo de todo o contexto histórico do período em que Portugal começava a firmar-se como reino independente, a partir do séc. XII: as Cruzadas, o Feudalismo e o poder econômico e político do Clero. Os poemas que, inicialmente, eram criados em torno dos castelos feudais, eram produzidos por poetas – chamados de Trovadores – e músicos com o intuito de serem cantados, acompanhados de instrumentos de corda e de sopro.

Por serem cantadas, diferentemente da escrita, a poesia trovadoresca era de tradição popular e menos “trabalhadas”, e apresentava simplicidade nos temas e nas formas. Nos temas eram divididas em dois grupos: Cantigas Líricas, que por sua vez dividiam-se em Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo; e Cantigas Satíricas.

Saindo do séc. XII para o XXI, após reiteradas reflexões filosóficas, concluímos: o trovadorismo está presente em nossos dias atuais de duas formas: na presença e na ausência de dois aspectos – forma e temática – em um estilo musical relativamente novo, criado nos subúrbios da Bahia e que se espalhou por todo o Nordeste brasileiro. Estamos falando da Swingueira.

Esse estilo musical caracteriza-se, principalmente, pela forma simples (para não dizer pobre, quer dizer, paupérrima). A simplicidade da forma lembra, ainda que bem de longe, as formas de algumas Cantigas  que  contém uma série de versos em que um se repete (refrão) ao final de cada estrofe. Exemplo:

Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai, Deus!, se verrá cedo!

Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus!, se verrá cedo!

Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus!, se verrá cedo!

Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus!, se verrá cedo!







                                                                                         FONTE: http://trovadorismoturma20.blogspot.com/2009/08/poesia-trovadoresca.html

 
É certo que toda música tem refrão, ou pelo menos a maioria, mas a Swingueira “valoriza” tanto o refrão que em raros casos ele não é predominante. Exemplo:

Tá Tudo Enfiado  

Composição: Mário Brasil

 

Tem mulher que usa "p"
Tem mulher que usa "m"
Tem mulher que usa "g"
E a outra é "gg"

A perigueti anda com um fio só
Todo enfiado, todo enfiado, todo enfiado
Todo enfiado, todo enfiado, todo enfiado
Todo enfiado, todo enfiado, todo enfiado
Todo enfiado, todo enfiado, todo enfiado
Todo enfiado, todo enfiado, todo enfiado

Ela chega no pagode
Chamando atenção
Com um tomara que caia
E o celular na mão                                               
As mulheres do pacote
Tá com o bichão no chão
As mulheres do pacote
Tão com o bichão no chão
Mas essa mina tá com o fio só
(FONTE:http://letras.terra.com.br/o-troco/1543650/)

 
 FONTE: http://faisqueiraemacao.blogspot.com/2011/04/presa-nas-ferragens-jaque-pede-ajuda-na.html


Antes de prosseguirmos, pedimos perdão pelo péssimo exemplo exposto, mas foi colocado para efeito de comprovação argumentativa. Percebe-se, até mesmo com um olhar ou  um ouvido menos atento, a predominância de uma parte (todo enfiado) nisso que alguns chamam de música, para não dizer que toda  ela se resume a essa parte. Essa repetição, diferente do que ocorre nas Cantigas trovadorescas, não é uma estratégia poética, mas sim resultado de uma total falta de criatividade e, diga-se de passagem, bom-senso.

Outro aspecto marcante dessa poesia medieval é a temática do Amor Cortês. Eram características desse amor: a paixão desmedida, o desejo do poeta e o desespero diante da impossibilidade da união com a mulher amada. AMADA! Aos olhos do amante – no sentido de aquele que ama, e não o atualmente conhecido como Ricardão – a mulher desejada é a mais bela e perfeita de todas as mulheres, mas era espacialmente inatingível ou socialmente inacessível, pois geralmente ela era casada ou prometida a um poderoso senhor feudal. Havia uma valorização suprema da “Dama” e uma sujeição a ela; uma típica relação feudal de vassalagem.

Hoje, com a disseminação de certos estilos musicais, em especial a Swingueira, essa ideia de amor inexiste. E o pior: subjugam as mulheres, transformam-nas em meros objetos de satisfação sexual. E o que é pior ainda: muitas mulheres (pelo menos seres do sexo feminino...) ouvindo e dançando esse tipo de música! Não propomos aqui um retorno do Amor Cortês que era irrealizável. O que defendemos é o retorno da valorização da mulher; que ela possa novamente ser vista, aos olhos dos homens, principalmente dos maridos e namorados, como a mais bela e perfeita das mulheres. Quanto a elas, que não deem o “cabimento” de serem tidas como objetos descartáveis, úteis apenas para a satisfação de um desejo sexual momentâneo, e não admitam a alcunha de Perigueti, expressão que, curiosamente, também é uma criação baiana.

Ao que parece, estamos retroagindo em nossa produção cultural. E o resultado desse retrocesso certamente não nos levará ao primitismo literário propriamente dito. Chegaremos a anterioridade disso. Não só no que se refere à Literatura ou à Música, mas também ao comportamento humano.  Não estranhemos se em alguns poucos anos começarmos a ver pelas ruas mulheres sendo arrastadas pelo cabelo ao som de "mexe o balaio, mexe o balaio..."

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