Um Prefeito de uma cidadezinha bem pequena do interior do Rio Grande do Norte, cujo nome deve ser preservado, decidiu informatizar todos os setores da prefeitura, a fim de dinamizar o trabalho e agilizar digitalização de documentos feitos ainda de maneira lenta por apenas um computador em seu gabinete. Diante disso, ligou para seu assessor parlamentar, no interior popularmente conhecido como “babão do prefeito”, mas que tinha cargo de confiança e resolvia todas as pendências da prefeitura, e disse:
― Sebastião, eu preciso do seu comparecimento urgente em meu gabinete, venha sem mais demoras, precisamos conversar.
― Combinado, Sr. Prefeito. Afirmou Sebastião todo empolgado para ver qual seria a nova atividade, já que nesses pequenos interiores quase nunca aparece o que fazer.
Sebastião chega ao gabinete do Prefeito todo empolgado, vestindo calça e camisa social bem engomadinhas e presas por um cinto no alto da cintura, além de calçar sapatos impecavelmente engraxados como de costume para se apresentar ao prefeito e diz:
― Eis-me aqui, Sr. Prefeito, pronto para realizar mais uma atividade em prol dos valores e da população de nosso município. Em que posso ser útil?
― Sebastião, você sabe que o mundo tem se informatizado e o avanço tecnológico tomou conta rapidamente de todas as esferas sociais. Sabe também que prezo muito pelo crescimento econômico, social e moral do nosso município e que desejo ser reconhecido como o melhor prefeito que essa cidade já teve. Então, andei cá pensando com meus botões, temos de promover a informatização de nossa prefeitura para melhorar nosso serviço e melhor atender nossos cidadãos.
Sebastião, sentado, olhando para o Prefeito apenas balançava a cabeça com os olhos brilhando, ouvindo todo aquele discurso quase a ponto de bater palmas.
― E o que vamos fazer para informatizar nossa prefeitura, Sr. Prefeito, uma vez que não sabemos mexer com computador e a maior parte dos funcionários tem mais de quarenta anos e alguns, por exemplo, tem uns problemas de visão terríveis que duvido conseguirem mexer nesse tal nesse treco? Indagou Sebastião, preocupado com o que poderia ocorrer.
― Não interessa, Sebastião, que eles aprendam na marra ou não aprendam, pouco importa. Quero que você convoque todos os funcionários da prefeitura para fazerem o Curso de Capacitação: Novas tecnologias, aprenda a facilitar sua vida e se conecte com o mundo. Gostou do título do curso? Já entrei em contato com um professor da UFRN para ministrar as aulas. Quero que você organize uma sala bem confortável, com ar condicionado, cafezinho e chame o pessoal. Diga que ninguém pode perder esse curso. Depois tire as fotos e mande revelar para colocar no mural da prefeitura. Isso pode dar votos na próxima eleição. Entendeu Sebastião? Ande homem, a aula será amanhã!!!
Sebastião convocou todos os funcionários da prefeitura e disse que ninguém podia faltar. No dia da aula, todos estavam presentes. Dona Maricotinha, que faltava um ano para se aposentar; Dona Neuza, que já não escutava bem e era responsável pela recepção; Senhor Adolfo, que cuidava da portaria; Dona Cristina, Dona Maria, Dona Joana, Lourdes e outras senhoras e senhores, que nunca tinham tido contato com computadores e até mesmo com internet, pois quem fazia a maior parte dos documentos era a secretária do Prefeito no computador do gabinete.
A aula começou, todos pareciam meio ofegantes e curiosos para saber como mexia em uma máquina tão interessante, cara e que quase ninguém na cidade possuía. O professor João iniciou a discussão.
― Vivemos em um mundo globalizado, onde as mídias são o diferencial para um bom crescimento intelectual e saber utilizá-las é o que venho propor para vocês hoje. – Disse ele em um tom professoral.
A aula avançou e a turma se remexia nas cadeiras sem entender nada, mas prestava atenção e cochichava freneticamente para descobrirem sozinhos do que se tratava cada nome citado e como se fazia para acessar a internet. Lá pelas tantas, Donas Neuza, toda envergonhada, pede para Dona Maricotinha perguntar ao professor algo, e ela não hesita:
― Prossor, diz aí pra mim o que significa esse “diabo”, “diabo”, “diabo”, que o sinhor tanto fala que faz entrar na internet?
O professor, meio sem compreender o que ela havia perguntado, deu uma resposta que complicou ainda mais, porém Dona Maricotinha ficou quieta e fingiu que havia entendido para não atrapalhar a aula. Enfim, o curso terminou e Dona Neuza, junto com Dona Maricotinha chegaram para o professor João, que estava desmontando todo o equipamento da aula, e disseram:
― Prossor, o sinhor respondeu, mai eu num intendi nada. Cê pudia repetir o que é o “diabo”, “diabo”, “diabo” que faz entrar na internet? Purque sinão eu num vou saber mexer nesse troço de jeito maneira.
O professor, meio sem palavras e percebendo que seu curso não tinha adiantado de nada, tentou remediar explicando novamente, mas era impossível. Elas não entenderiam, pois não tinham aproximação com esse tipo de equipamento. No outro dia, Sebastião chegou para o Prefeito e disse:
― O curso foi um sucesso, Sr. Prefeito! Pode mandar equipar a prefeitura e não esqueça que eu quero o meu computador para acessar através do “diabo”, “diabo”, “diabo” a internet. Dizem que é o maior sucesso, quero fazer meu Orkut e também o Twitter. Dizem que dá para falar com todo mundo, aaadoooorei...
Produzida por Conceição Cavalcanti