Depois da aula, o Menino sai correndo para casa. Ele não percebe a paisagem sem vida e tampouco a junção dos animais com os homens que o cerca. Sua ansiedade de chegar é mais veloz que seus pequenos pés descalços e sujos. Assim, adentra o casebre e grita:
– Mãeeeeeee!
– O que foi minino? Estou aqui, no quintal, lavano as roupa da patroa.
Em passos lentos, o Menino vai ao encontro de sua mãe, demonstrando um semblante triste e vazio. Sua mãe preocupada, questiona-o:
– Que cara é essa? Que bicho te mordeu, hem?
– Sabe mãe... É triste! A gente trabalha, trabalha e trabalha. Cria um bocado de coisas legais e depois morre. Ah! Como é triste essa vida.
A mãe não compreende o que seu filho falou, senti-se confusa com a resposta, mas curiosa continua a perguntar.
– Oxe! Tu tá falano sobre o que mesmo, hem? Desembuche logo, apois se foi outra briga com o minino do cumpadre Zé.... Amanhã mermo vou na escola falar com sua professora. Num tem cabimento uma história dessa!
A mãe irritada prossegue, dando-lhe uma lição de moral.
– Meu fio, aqui em casa só tu estuda. Eu sei que tu é bom aluno, tira dez em tudo, então, pare de brigar! Veja seus irmão mais veio, eles tudinho trabaiam aqui no aterro, ninguém briga com eles, nem por um pedaço de biscoito morfado. Deixe de coisa, vá pra escola ser gente, estude pra nos ajudar e num invente de brigar outra vez, entendeu? – a mãe se virou e continuou a lavar as roupas.
O pequeno Menino permaneceu parado e atônito, logo deu conta de que sua mãe não compreendeu o seu pensamento. Impulsivamente, tentou explicar o mal-entendido.
– Mãe, não aconteceu nada. Não houve briga na escola, deixa eu explicar, o que aconteceu foi o seguinte: hoje, a professora falou que um homem, não lembro mais o nome, muito inteligente, que gostava de trabalhar muito, morreu de câncer. Ele criou muitas coisas massa, tipo: o computador pessoal, iPod, iPhone, mouse, netbook, Imacs, essas coisas tecnológicas. Ah! Criou também uma empresa que tem um símbolo de uma maçã.
A mãe do Menino parou de lavar as roupas, desligou a torneira, virou-se para o filho, secou as mãos no avental e, perplexa com a conversa do filho, pôs a mão úmida na no canto da boca e disse:
– Agora que deu mermo, num entendi foi nada! Que palavriado é esse? Vixemaria! É tão difícil que nem sei falar, acho que até nunca vi esses negócio de tecnológico.
Nesse momento, o irmão mais velho do Menino, chega na moradia e vai até o quintal, onde encontra sua mãe e seu irmão conversando. E sorridente, chama a atenção de todos para mostrar o que havia catado no lixo.
– Gente, olha o que eu achei! Meu irmão, eu trouxe pra você, espero que goste.
O garoto saiu correndo para ver o que o irmão lhe trouxera. Ficou espantado ao perceber que se tratava de “uma coisa tecnológica”. Ao tomar o objeto em suas mãos, o Menino exclamou:
– Nooooossa! Isto é um tablet! Obrigada.
O Menino agora está alegre e cuidadosamente observa cada detalhe do seu novo brinquedo, mas percebe algo estranho e comenta para o seu irmão.
– Este tablet não funciona, está quebrado e não serve para nada. Bem que minha professora falou: o cara desenvolveu o avanço tecnológico, retirou a tecnologia das grandes empresas e colocou a serviço de todos, em especial das pessoas comuns... Que pena! Ele morreu e não deu tempo de levar a sua tecnologia para aqueles que não a possui e ainda vive abaixo da miséria.
Produzida por Mirlene Coutinho
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